segunda-feira, outubro 09, 2006

Lula x Alckmin: primeiras impressões a respeito do debate dos presidenciáveis


Thiago Camargo
Coordenador do Projeto de Assessoria e Informação para a Gestão Pública Democrática.
Advogado e Especialista em Políticas Públicas pela UFMG


O primeiro debate do 2º. turno promovido pela Rede Bandeirantes foi caracterizado por um forte embate entre os candidatos à Presidência da República. Basicamente, a questão ética e a comparação entre os governos (FHC/Alckmin x Lula) foram os eixos das discussões.

Logo no inicio, o candidato Geraldo Alckmin procurou desfazer a imagem presidencial de Lula. De forma até surpreendente, colocou o Presidente Lula na defensiva, atacando duramente o governo, chamando o Presidente de mentiroso e ressaltando as denuncias de corrupção.

Lula, na primeira intervenção, parecia mais nervoso e com raiva. Depois, paulatinamente, começou a ganhar terreno e a envolver o candidato Alckmin. Mesmo colocando o candidato da oposição na defensiva, Lula pecou em pontos importantes. Transpareceu certa arrogância em alguns momentos. Em outros mostrou certa confusão e poderia ser mais direto nas acusações contra Alckmin. Explorou, no entanto, os pontos fracos dos governos tucanos, os bons resultados do governo (com boa fala sobre energia, por exemplo) e, fundamentalmente, falou de forma mais concreta para as pessoas.

Alckmin, por outro lado, mostrou um grande crescimento no plano simbólico. Ganhou “cara de presidente”, mas permaneceu sem conteúdo na apresentação de propostas. Procurou aproveitar os traços arrogantes de Lula, mas em alguns momentos pareceu um candidato paulista, citando siglas que só os paulistas sabem dizer o que significa e que nada dizem à população brasileira. Depois, tentou mostrar-se mais nacional, citando propostas genéricas para o nordeste, como a volta da Sudene e propostas para a área de saúde do Rio.

Quase no final, ambos, competiram bravamente para ganhar o prêmio populista do ano. Alckmin ao dizer que venderá o Aerolula e construirá, com o dinheiro, 5 hospitais. E Lula, ao defender que o caixa 2 e sonegação fiscal sejam transformados em crime inafiançável . Não precisavam falar nada disto.

Em resumo, do ponto de vista eleitoral, o debate não teve vencedores. Na verdade, em debates como o ocorrido, fala-se basicamente para 2 públicos: a) os defensores ardorosos dos candidatos, e b) os indecisos e os que já possuem candidatos mas podem ainda mudar o seu voto. São esses os públicos que os candidatos querem atingir. No primeiro caso, a presença de Lula (com um discurso um pouco mais à esquerda do que se tornou o habitual) e a defesa do governo me parecem ser um ponto a favor do Presidente. Os lulistas ganharam elementos para a defesa do governo e aos militantes de esquerda ficou demarcada, ainda que de forma tênue, a diferença ideológica entre os dois candidatos. No segundo caso, não me parece que o debate tenha dado elementos para melhorar o posicionamento dos candidatos. Quem é Lula permaneceu Lula. Quem é Alckmin permaneceu Alckmin. Quem está indeciso permaneceu indeciso. Talvez, duas percepções, bem subjetivas, podem ter emergido do debate ontem e podem ser exploradas ao longo da campanha. Uma a favor de Alckmin: a consolidação de uma imagem mais parecida com a de um presidente (que ele não possuía nem de perto no inicio da campanha e que Lula ganhou ao longo dos últimos 4 anos). E outra a favor de Lula: a de ser um candidato com mais propostas para governar o Brasil, não se limitando a questões éticas e paulistanas.

Tudo isto, entretanto, são percepções de um debate que, repetimos, não deve interferir nas intenções de voto dos dois candidatos. O debate apenas deixou claro que o 2º. turno das eleições será pautado por acusações de ambos os lados e que as propostas para o Brasil serão um eixo menor na luta política tratava pelo PT e PSDB paulista e que, a cada dia, vem contaminando o resto do país.
Extraido do site: www.cultiva.org.br

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