segunda-feira, abril 03, 2006

Desorganizando o consenso

Ponto de Vista
31/03/2006

No dia 25, a Prefeitura Municipal de Uberlândia realizou, no auditório da Câmara Municipal, uma audiência pública, cujo objetivo era "capacitar a população em geral para a discussão e revisão do Plano Diretor". A programação contou com a abertura, apresentação da consultoria contratada pela Prefeitura para "rever democraticamente" o Plano Diretor, um período de lanche para os participantes e, finalmente, trabalho em grupo.

Diferentemente do que divulgou a Rede Integração em matéria veiculada no MG TV 2a Edição do dia 26, a audiência pública foi marcada pelo tensionamento público entre lideranças comunitárias e o governo municipal. Como somente um ponto de vista foi demonstrado (o ponto de vista do governo), publicaremos o que de fato aconteceu na malfadada audiência pública.

A Prefeitura Municipal, desde 2005, não discute publicamente as questões centrais do Município: PPA (Plano Plurianual), LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), LOA (Lei Orçamentária Anual), tarifa do transporte coletivo, construção do corredor "central" da João Naves de Ávila. Com o Plano Diretor não é diferente: desde que a Comissão Popular do Plano Diretor (comissão formada por cidadãos e entidades para a discussão do Plano Diretor com o governo) iniciou seus trabalhos, o governo Odelmo Leão (PP) insistentemente se esconde na tecnocracia numa tentativa de prevalecer na revisão do plano os interesses da Administração Municipal e não os da sociedade.

Na audiência pública que, diga-se de passagem, foi divulgada principalmente pela internet, ficou nítida a falta de preparo dos agentes do governo Odelmo no trato das questões populares: falta de organização, metodologia confusa e centralizada, falta de "traquejo político" ao lidar com situações imprevisíveis e, principalmente, intransigência com quem, democraticamente, discordava da metodologia proposta.

O que assistimos foi a um grande "evento" recheado com salgadinhos e guaraná para cargos comissionados e poucas lideranças comunitárias. Apesar de tudo isso, é importante ressaltarmos a intervenção de algumas lideranças comunitárias e cidadãos que encaminharam dois manifestos questionando a metodologia proposta e considerando ilegítima a audiência pública.

Não é de hoje que o Município de Uberlândia percebe que a relação entre a Prefeitura e a sociedade não é das mais transparentes, somente a título de exemplo, o fim do orçamento participativo como proposta de governo demonstra que a Administração Municipal veio para restringir o acesso dos cidadãos às informações e principalmente ao processo decisório.

É importante destacar a atuação de três parlamentares que estavam presentes: Aniceto Ferreira (PT), Elismar Prado (PT) e Weliton Prado (PT), que foi o único deputado presente na audiência. Os três, juntamente com a equipe do vereador Fernando Rezende (PV), o Fórum Permanente do Orçamento Participativo, o Fórum de Políticas Urbanas de Uberlândia e alguns cidadãos, conseguiram inverter a pauta proposta e intervir efetivamente no processo. Mas somente isso não basta. É preciso que o governo Odelmo e a consultoria contratada ("especialissíssima" em mobilização social como foi dito na abertura) reconheçam a história dos movimentos sociais de Uberlândia e todo o processo de participação popular construído democraticamente no Município entre 2001 e 2004 para a construção do novo Plano Diretor. Qualquer situação que não seja essa é pura falácia.

Marcílio Marquesini Ferrar
Economista e coordenador do FPOP (Fórum Permanente do Orçamento Participativo)
fpopudi@yahoo.com.br

Site de origem: http://www.jornalcorreio.com.br/v2/coluna_ver.aspx?id=23&data=



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