sexta-feira, março 17, 2006

EPIDEMIA: Cidade tem mais de mil casos de dengue

CIDADE
sexta-feira, 17 de março de 2006


REPORTER: GLEIDE CORRÊA

Mosquito Aedes aegypti infectou 1.077 pessoas no Município nos primeiros dois meses

Nos dois primeiros meses deste ano, Uberlândia registrou 1.077 casos confirmados de dengue, o que configura uma epidemia. Os números foram divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) e mostram que a situação é crítica e que a população deve ficar em estado de alerta, segundo análise dos órgãos estaduais e federais de combate e controle da doença.
De acordo com a coordenadoria do Programa Nacional da Dengue do Ministério da Saúde, a situação era previsível. Isso porque, em outubro do ano passado, havia indicadores que apontavam para um avanço dos casos da doença. E, segundo a coordenadoria, certamente houve falhas na condução do programa de combate à dengue no Município.
A afirmação tem como base o aumento do índice de infestação do mosquito, que chega a 6,9%, enquanto o aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é 1%.
Comparada à do ano passado, a situação é ainda mais preocupante. Durante todo o ano foram notificados 4,7 mil casos, sendo que no mês de janeiro praticamente não houve registros. De acordo com reportagem do CORREIO, publicada dia 17 de fevereiro de 2005, até aquela data eram sete os casos de pessoas com dengue.
Ao contrário do que acontece no restante do Estado, a região do Triângulo Mineiro registra um aumento da doença e já responde por 64% dos casos confirmados em Minas. Uberlândia deve ficar com a maior concentração dos números da doença, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Dados preliminares da SES mostram que Uberaba vem a seguir, com 753 casos confirmados - o balanço dos dois primeiros meses deve ser concluído na próxima semana.
Na semana passada, os dados relativos à doença repassados ao CORREIO pelo secretário municipal de Saúde, André Luiz Oliveira, apontavam para aproximadamente 500 casos. A realidade apresentada pela Secretaria de Estado é bem diferente. A Secretaria Municipal de Saúde foi procurada para falar sobre o assunto, mas, segundo a assessoria de comunicação, o secretário André Luiz Oliveira não foi localizado.
A incidência de dengue, conforme ressaltam os órgãos de controle e combate à doença, ocorre por uma série variada de fatores, que vão desde as condições climáticas até ao combate ineficaz dos focos do mosquito e a falta de conscientização da população. Mas tanto o Ministério da Saúde quanto a Secretaria de Estado são unânimes em afirmar que houve falhas na prevenção e no combate à doença. "O que a gente observa é que houve um relaxamento dos trabalhos de campo como o descumprimento de pontos do controle da doença. Mas isso já vinha ocorrendo em anos anteriores", ressalta Francisco Leopoldo Lemos, da Coordenadoria de Controle de Zoonoses da Secretaria de Estado da Saúde.
O coordenador do Programa Nacional da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Evelim Coelho, também é taxativo ao apontar que houve descuido. Segundo ele, não dá para eleger um problema específico, mas, baseado em informações enviadas ao ministério, houve, por exemplo, um número inferior de visitas aos domicílios conforme preconiza a pasta. O secretário de Saúde do Município admitiu, em entrevista ao CORREIO no início do mês, que foram feitas, em média, quatro visitas aos domicílios, diferente das seis recomendadas. "Certamente houve falhas no cumprimento das metas do processo", afirma Giovanini Coelho. No entanto, ele faz questão de frisar que mais importante do que apontar os culpados é preciso dar continuidade e intensificar as ações de combate e prevenção.
A cada dia torna-se mais comum encontrar pessoas com a doença. Nem todos, no entanto, procuram uma unidade de saúde. Isso faz com que os números reais possam ser ainda maiores em função da subnotificação. Os reflexos do aumento dos casos de dengue podem ser observados também nas Unidades de Atendimento Integrado (UAIs), que sofrem com uma alta demanda.
Substituição de inseticida pode não surtir efeito esperado
Na semana passada, o Município adotou mais uma medida para tentar conter o avanço da dengue e substituiu o inseticida utilizado no fumacê. Desde então, passou a usar o UBV diluído em óleo, em substituição ao que era misturado em água. A mudança, segundo Giovanini Evelim Coelho, coordenador do Programa Nacional da Dengue do Ministério da Saúde, é desnecessária e pode não surtir o efeito esperado.
A medida, além de tudo, não tem o aval do Ministério da Saúde e o Prefeitura ainda corre o risco de ter que devolver aos cofres da Pasta os recursos federais repassados para o programa de combate à dengue. Isso porque, segundo Coelho, o Município não pode utilizar a verba repassada pelo ministério para as ações de combate à dengue para a compra do outro inseticida. Caso isso ocorra, alerta Giovanini Coelho, o Executivo municipal vai ter que ressarcir o órgão federal, que fornece o inseticida e não se responsabiliza pela troca.
Giovanini Coelho lembrou que a eficácia do fumacê depende da forma como ele é aplicado. Fatores técnicos como a regulagem das bombas de aplicação, a velocidade do veículo, horário e até mesmo o comportamento da população influenciam no resultado.
A participação da população é fundamental para eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti. É sempre bom lembrar que água parada e limpa são criadouros perfeitos para a proliferação do mosquito.
Força-tarefa
Desde o início do ano, a Prefeitura intensificou os trabalhos de combate à dengue, criou uma força-tarefa e triplicou o número de agentes envolvidos no combate ao mosquito transmissor da doença. Os 490 agentes que trabalham nas frentes de combate ganharam nesta semana mais um reforço. Serão mais 210 voluntários da polícia e da defesa civil que vão reforçar a equipe do Centro de Controle de Zoonoses. Em um mês foram visitadas mais de 105 mil residências e eliminados mais de 13 mil focos do mosquito transmissor.
Uberaba aparece em segundo lugar, com 753 casos da doença
O primeiro levantamento parcial do caos de dengue em Uberaba mostrava que a cidade era a segunda do Estado no ranking da doença, com 390 casos registrados até o dia 24 de fevereiro. Foram registrados ainda dois casos de dengue hemorrágica, porém, os pacientes se recuperaram. De acordo com levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, Uberaba aparece com 753 casos confirmados — dados preliminares que devem ser contabilizados na próxima semana. Nos dois primeiros meses do ano passado foram 160 casos confirmados.
De acordo com a diretora do programa de Combate à Dengue do Município, Rita de Cássia Sene, no ano passado houve um atraso nas atividades por causa do período de transição iniciado pelo novo governo. Outro fator citado pela diretora foi o surgimento do novo tipo de vírus e também as condições climáticas. Ontem Rita de Cássia e integrantes da Secretaria de Saúde estavam reunidos com técnicos do Ministério da Saúde para avaliar as causas do avanço da dengue e traçar as metas a serem seguidas. "Houve um atraso, porque estávamos no primeiro ano de gestão e tivemos algumas dificuldades, por exemplo, para agilizar as contratações de pessoal", admite Rita de Cássia.
Uma das medidas já adotadas é a contratação de mais 40 agentes que vão se unir aos outros 176, que já estão trabalhando nas frentes de combate ao mosquito Aedes aegypti.


ORIGEM DA REPORTAGEM: http://www.jornalcorreio.com.br/v2/noticia_ver.aspx?id=13885&data=

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