sábado, janeiro 28, 2006

Entreviasta do Secretario Municipal de Transito e Transporte ao Jornal Correio



ENTREVISTA
Domingo 22 de janeiro de 2006

SELMA SILVA
MANOEL SERAFIM
As demandas geradas por 600 mil habitantes e 200 mil veículos, em Uberlândia, requerem dos gestores públicos ações contínuas no sistema viário e de transporte de passageiros, que chegam a 4,5 milhões por mês, segundo dados da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) — mais de sete vezes a quantidade de habitantes do Município. No ano passado, o prefeito Odelmo Leão (PP), juntamente com o secretário Paulo Sérgio Ferreira, anunciou um pacote de medidas que viriam minimizar problemas antigos na estrutura de trânsito da cidade. Algumas obras foram feitas ainda no ano passado, com investimentos de R$ 17 milhões e, para este ano, outras tantas estão previstas. Em entrevista ao CORREIO, o chefe da Settran destacou as prioridades da pasta para 2006, entre elas a construção da ponte sobre o rio Uberabinha, interligando o bairro Cidade Jardim e adjacências à região universitária. Mas, nitidamente, a "menina dos olhos" da administração tem sido o corredor de ônibus da avenida João Naves de Ávila. Apesar de a implantação do corredor ter sido idealizada na segunda gestão anterior, o projeto foi adotado como algo essencialmente novo.
CORREIO — A Unesco defende as ações educativas voltadas para o trânsito como forma de se chegar à cidadania e todos sabem que a boa qualidade do trânsito depende, dentre outras medidas, da conscientização de motoristas e pedestres. O que a Settran tem feito neste sentido?
Paulo Sérgio — A primeira determinação que recebi do prefeito foi para priorizar o trabalho educativo. Temos uma equipe grande de agentes de trânsito trabalhando nas empresas e nas escolas; estagiários nas ruas fazendo campanhas educativas e também fizemos uma ação com informes publicitários destinada a pedestres e motoristas. A partir deste ano, as campanhas serão permanentes tanto na mídia quanto também pelas equipes que atuam nas empresas e escolas. Também estamos propondo ao prefeito criar este ano o Conselho Municipal das Ações de Educação para o Trânsito.
Na parte de obras, do que o senhor anunciou no ano passado, o que efetivamente foi concluído?
Nos comprometemos para os quatro anos com alguns projetos importantes. Para 2005, nosso compromisso era a construção do prolongamento da avenida Nicomedes Alves dos Santos, da Unitri até o anel rodoviário. A obra está pronta. Nos comprometemos a fazer o corredor estrutural da João Naves. Iniciamos a obra em outubro, os trabalhos ficaram paralisados durante um mês (por causa de denúncias de supostas irregularidades envolvendo uma empresa do secretário de Serviços Urbanos, Adicionaldo dos Reis Cardoso) e pretendemos operar o corredor em abril. Uma terceira obra que está em licitação é a ligação da avenida Geraldo Abrão, que liga o Camaru ao City Uberlândia e ao Centro da cidade e de outras duas avenidas que vão facilitar o acesso a várias partes da cidade.
E para este ano, a população vai contar com quais obras?
Estamos prevendo a construção, de imediato, da trincheira sob a BR-050, que vai ligar o bairro Marta Helena ao Umuarama. Isso vai trazer economia no percurso dos ônibus que saem dos bairros Nossa Senhora das Graças e Marta Helena, em direção ao Umuarama. Vamos reduzir em torno de 3,2 quilômetros e também o tempo de viagem. Outra obra importante é a construção da ponte sobre o rio Uberabinha, que vai ligar a avenida das Papoulas, no Cidade Jardim, à avenida dos Vinhedos, do lado da região universitária. Será uma integração destas duas partes da cidade. Esta é uma obra que pretendemos fazer este ano, com verbas da secretaria e estamos buscando recursos também no Programa de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades.
Uma obra de grande expressão e necessidade e que vem mexendo com algumas administrações, mas ainda não passou de idéias é a construção do viaduto no cruzamento das avenidas Rondon Pacheco e João Naves de Ávila. Desta vez, esta obra vai sair?
Estamos com entendimentos avançados com o BNDES e o Ministério das Cidades buscando recursos para podermos viabilizar esta construção. Neste cruzamento é registrado o maior número de acidentes e onde passa o maior número de veículos: 60 mil por dia. Tanto é que fizemos algumas alterações como a retirada da ilha, a instalação do semáforo com ciclo visual, mas isto não é suficiente. É necessário fazermos o viaduto. Nosso objetivo é iniciar as obras dentro deste governo.
Além das obras de grande vulto, pequenas intervenções no sistema viário são necessárias periodicamente. Quais são os projetos da Settran para execução em curto prazo?
Fizemos um levantamento dos pontos críticos, elaboramos um projeto para cada um destes pontos e estamos em fase de implementação de obras como rotatórias, reforço de sinalização, adequação de canteiros e de largura de pista em vários bairros da cidade. Implantamos também sete novos semáforos e todo o hipercentro está equipado com as placas Los Angeles, na horizontal, penduradas nos semáforos, o que melhora a indicação dos logradouros da cidade.
Um dos maiores problemas enfrentados por motoristas no Centro da cidade é a falta de vagas de estacionamento público. Quais os projetos para esta área?
Estamos fazendo uma avaliação com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a CDL e a Aciub para uma série de melhorias no hipercentro da cidade, que envolve mudança da lei de carga e descarga, revisão do número de vagas para motocicletas e veículos, ampliação da área de atuação da Zona Azul, análise sobre a presença de carroças no Centro, de carros de som, entre outras. É um trabalho amplo que estamos fazendo em conjunto com a sociedade organizada e que vai apontar quais mudanças precisam ser adotadas para melhorar a qualidade do tráfego na área central.
Que medidas foram tomadas para atender as pessoas com deficiência física, já que havia uma defasagem na quantidade de ônibus adaptados?
Tivemos um grande avanço no atendimento ao deficiente físico. Assumimos o governo com 25 veículos adaptados com elevador. Estamos com 40, o que representa um aumento de 60%. Nosso objetivo é fazer com que a acessibilidade não seja para apenas algumas linhas, mas que toda a cidade seja acessível para a pessoa com deficiência; que em todas as linhas tenha pelo menos um ônibus adaptado. Vamos melhorar muito até o fim do governo. Na avenida João Naves de Ávila, estamos construindo plataformas baixas, com rampas mínimas, que vão dar maior conforto ao deficiente, em geral. Outra inovação no corredor será dois ônibus com piso baixo, que vai dispensar o uso de elevador.
A palavra "radar" causa arrepios principalmente nos maus motoristas, os que geralmente são flagrados por estes equipamentos? Houve alguma mudança neste tipo de fiscalização?
Não aumentamos nenhum radar. Apenas relocamos alguns dos que já existiam. Fizemos uma pesquisa e verificamos alguns pontos com maior incidência de acidentes onde seria indicada tecnicamente a instalação de radar. Então, tiramos de um lugar e passamos para outro. São sete lombadas eletrônicas, 12 radares de avanço de sinal e 12 de controle de velocidade. Os aparelhos são distribuídos nos pontos, em sistema de rodízio.
No transporte coletivo urbano, as empresas concessionárias tinham até 31 de dezembro para fazer a substituição dos ônibus com data de fabricação acima do prazo de validade. Este acordo foi cumprido?
A idade máxima permitida para um veículo operar é de 10 anos. Em janeiro de 2005, tínhamos 114 veículos com mais de 10 anos. Assinamos um contrato com as empresas em maio e elas assumiram o compromisso de renovar todos estes veículos até o fim de dezembro. Hoje, a troca chega a 80%. O restante da substituição será feito durante o mês de janeiro. De forma que vamos chegar ao fim deste mês com toda a frota renovada. Logicamente, não será 100% de ônibus zero-quilômetro, mas todos terão idade abaixo dos 10 anos.
A Prefeitura tem alguma influência sobre a formação dos motoristas dos ônibus do transporte urbano?
A responsabilidade de treinamento de motoristas e cobradores é das concessionárias, mas a Prefeitura participa como gerenciadora e fiscalizadora do sistema. Temos um contato com os trabalhadores, por meio de nossos fiscais, e realizamos durante o ano algumas reuniões para treinamentos dentro de projetos específicos. Para 2006, temos uma programação forte, principalmente para os motoristas e cobradores que vão trabalhar no corredor estrutural da João Naves, que vai mudar um pouco a forma de operação. Não vai ter, por exemplo, cobradores dentro dos ônibus. Eles vão ficar nas plataformas.
Qual são as medidas em caso de mau relacionamento entre funcionários e usuários dos ônibus?
Todas as reclamações que chegam à nossa fiscalização são repassadas às empresas, elas são notificadas e obrigadas a fazer um trabalho de reciclagem com aqueles profissionais que dão problema. É importante que ao reclamar, o passageiro informe os dados completos, com a linha, o horário e o número do ônibus (o telefone para reclamações é 3235-7743).
No ano passado, o senhor afirmou que pretendia acabar com o sistema Passe Livre, o que não foi feito. Qual é a situação deste serviço hoje e o que a Settran pretende fazer?
O serviço complementar, composto pelo Passe Livre e pelo Porta a Porta, é prestado por uma cooperativa (Cooptal) às empresas. A Prefeitura apenas fiscaliza. No Passe Livre, nós estamos estudando a possibilidade de alterações. Onde temos vans operando gratuitamente, fizemos um trabalho técnico e verificamos que isto é inviável para o sistema. Estamos propondo uma alteração da lei, cujo projeto devemos mandar em fevereiro para a Câmara Municipal. Vamos propor a criação do sistema suplementar, onde teremos algumas linhas com vans ou microônibus cobrando a passagem do usuário. Onde for tirada a linha do Passe Livre, haverá substituição por ônibus. E o Porta a Porta será mantido como está.
Nos últimos anos, tornaram-se rotineiros os problemas entre a Cooptal e as concessionárias devido ao atraso no pagamento aos perueiros. Houve inclusive diversas paralisações no serviço. A intervenção da Prefeitura no ano passado foi suficiente para resolver este impasse?
Hoje, todos os pagamentos devidos pelas empresas à Cooptal estão em dia. As empresas de ônibus ficavam em atraso de três a quatro meses. Assumimos a venda do passe escolar a partir de agosto e com os recursos arrecadados quitamos os impostos municipais devidos pelas empresas e pagamos as vans. Os recursos foram suficientes e alguma diferença que houve a menos, as empresas repassaram à Cooptal. Melhorou muito esta questão de atraso.
Por falar em venda de passes escolares, a lei que prevê a descentralização está sendo cumprida?
A lei é de 2001, mas não estava sendo cumprida. Os passes escolares eram vendidos somente no Terminal Central. Hoje, são vendidos também nos terminais Santa Luzia, Umuarama e Planalto, conforme a lei determina.
No ano passado, o Ministério Público questionou a renovação do contrato de prestação de serviço com as concessionárias do transporte coletivo urbano e também o aumento no valor da passagem de ônibus — de R$ 1,50 para R$ 1,90. Qual é o resultado destes questionamentos?
A situação está totalmente resolvida em relação aos dois assuntos. Todos os esclarecimentos solicitados pela promotoria foram feitos. Fizemos a alteração da tarifa que acordo com o que manda a lei, com base em uma planilha de custos que foi amplamente divulgada e que, inclusive, está na internet à disposição da população, no site da Prefeitura (www.uberlandia.mg.gov.br). E a prorrogação foi baseada na lei municipal aprovada pela Câmara.
Recentemente, tivemos mais reajustes no preço dos combustíveis, um dos fatores considerados na planilha das empresas de ônibus? Qual a possibilidade de haver um novo aumento no preço da passagem?
Não estamos discutindo qualquer aumento na tarifa do transporte coletivo em Uberlândia. Não recebemos nenhuma solicitação das empresas.
O senhor citou diversas vezes o corredor da avenida João Naves, que está em construção. Mas como tudo que é novo geralmente enfrenta críticas, há quem diga que esta é uma obra feita para "aparecer" como destaque da administração. A relação custo x benefício realmente vale a pena? O senhor acredita que daqui a 20, 30 anos o corredor estará funcionando, com as devidas adaptações?
O maior diferencial deste corredor é o custo/benefício. Estamos implantando uma plataforma baixa, onde podemos operar com veículos convencionais e isso vai trazer uma redução no custo de implantação de todo o sistema. Tenho certeza de que este corredor vai servir de modelo para outros dentro da cidade, como na avenida Monsenhor Eduardo, para o acesso ao Luizote de Freitas e Mansour como também para o Canaã. Ou seja, vai poder atender a toda a cidade com o modelo implantado hoje.
Qual o maior desafio que o senhor tem à frente da Setran para este ano?
Manter a equipe motivada para cumprir o plano de governo do prefeito Odelmo Leão, que norteia todas as ações. Queremos chegar ao fim do ano cumprindo todos os objetivos. Vivemos numa cidade que cresce mais de 4% ao ano e isso exige de nós, gestores públicos, uma permanente atenção com o trânsito e com o transporte na cidade. Nossa equipe tem que estar motivada para dar esta atenção porque os problemas são constantes e temos que nos antecipar a eles para que a cidade ofereça qualidade de vida.

Titulo da reportagem:
Prazo para obras deve ser cumpridoPaulo Sérgio fala sobre trânsito, obras, recursos e vagas no hipercentro
Site de origem:
http://www.jornalcorreio.com.br/v2/canal.aspx?id=4&data=22/01/2006

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?